Ainda não era meio dia, quando dividi com o vovô
Laurindo um pedaço quentinho do peixe assado que o meu pai preparou. Estranho meu
avô não estar no comando do peixe, afinal era ele quem costumava cuidar de todo
o processo, da pescaria à brasa. Cortei a porção em pedaços menores e cuidei
para que não ficasse nenhuma espinha naqueles que ele pegava. Aquele velhinho
de cabeça branca não podia mais confiar na visão dos seus olhos azuis, pelos
quais já tinha visto o que queria e o que não queria neste mundo.
– Agora chega – ele disse.
– Pega só mais esse – eu insisti, pois já fazia
dias que ele não comia quase nada. Minha mãe pensava que era por causa da
tristeza. Eu acho que era a falta do amor que partiu com a minha
avó.
– Adesso basta –
respondeu, com o bom italiano que falava sempre que as palavras em português
fugiam da sua mente.
Pegou o último pedaço e
saiu em passos curtos, na medida da força que restou em suas pernas. Enquanto
ele se afastava eu reparei que vestia aquela camisa que eu adoro. As listras
verdes e azuis combinavam com a cor dos seus olhos.
Há pouco mais de quatro
anos o seu Laurindo nos deixou. Felizmente, de vez em quando ele e a vó Maria
veem me visitar. Pode ser só em sonho, mas o amor e a ternura que recebo
alegram a vida de quem ainda não dormiu para sempre.